segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Livro e a Bagagem

Sempre que lemos bons livros nos deparamos com trechos, passagens, frases de efeito ou mesmo pensamentos que nos desperta a vontade de tê-los sempre à ponta da memória. Mas não é assim que acontece.
Nós todos, leitores ou não, sabemos, por exemplo, nossos nomes e sobrenomes, o nome do nosso planeta, que galinhas botam ovos e etc. São lembranças certeiras, mas não ficam necessariamente na ponta das nossas memórias. Então pensei em uma suposta solução: Fazer uma lista de todos estes fragmentos de bagagens que adquirimos das ótimas leituras. Dá certo? Dá errado. Falo por experiência, já o fiz e digo, é ainda pior. Você deposita aqueles preciosos pensamentos numa lista em um papel e guarda o papel – ás vezes num lugar estratégico de fácil consulta – e acontece que este ato de registrá-lo e guardá-lo faz com que nós pensemos que a lista está a salva, segura e sólida. E o que acontece? Ficamos tranqüilos com a bagagem em segurança e a deixamos de lado.
Desta forma, o esforço de lembrar se tornou o exercício de se esquecer. Então, e o que fazer? Eu leio tais trechos preciosos com muita calma e muita atenção – Deixo a naturalidade cuidar do resto.
Fugindo – não com displicência – o assunto em prol de uma relevante analogia, contarei um acontecimento real. Eu não posso tentar desesperadamente salvar na memória o momento presente em que me encontro, sentado a um banco – daqueles de praça – do campus universitário, bem acomodado e em paz numa tarde nublada de ventos frios, circundado por árvores variadas, pássaros e muito mais natureza.
De maneira semelhante a como reajo a leitura de um bom livro eu vivo com devida atenção e satisfação este momento sagrado, silencioso e saudável. É basicamente isso que aprendi com pouca leitura dos valores do povo oriental, a importância de se estar consciente do momento presente.
Acabando a precisa analogia volto ao motivo do texto, re-evocando a ideia de que preocupar-se (pré-ocupar-se)em guardar um peso de bagagem de leituras ou salvá-la em uma lista é quase como rejeitá-la à memória.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um Texto Sem Graça

Sem graça sim, pois fazia algum tempo que já não sabia brincar com carros de brinquedo ou bonecos de luta. Talvez uns quatorze anos. Mesmo a lembrança de tal entretenimento estava meio turva, principalmente porque a ansiedade lhe corroera por dentro.

Se a universidade cumprisse com o calendário acadêmico, talvez isto não estivesse acontecendo, talvez este texto não fosse tão sem graça. Se seu tempo começa a deixar de existir por não ter referências, como por exemplos, coisas a fazer, ele começar a existir muito mais do que antes, só que agora, angustiante...
Porque, na verdade, as coisas instantaneamente boas não satisfazem mais do que elas duram. Namorar acaba com o próprio prazer de namorar minutos depois. Uma bebida acaba rápido demais, uma xícara de café te deixa ainda mais tenso, para variar. Humor cansa. Estudar se torna massacrante, a leitura vira a vontade da audição, a audição se torna uma vontade de não precisar entender o que se ouve. É o avesso total das funções normais. As musicas repetidas são enjoativas, as novas são ruins, as próprias são para outro momento. A composição não acontece, as notas não dizem nada.

A velocidade leva à redução, leva ao retorno, ao quebra-molas. As ruas só mostram saídas, as ruas expulsam da rua. O verbo não se verbaliza, o texto se descontextualiza, a vontade se torna um desespero, o desespero do devir, do tornar-se, do vir a ser... Aquele novo tempo torna-se a promessa do momento seguinte, uma salvação tardia e um remorso infeliz daquele passado preso na mancha das costas da camiseta.

A vida sem movimento torna-se um texto chato pra porra!
Um texto sem graça.