Sempre que lemos bons livros nos deparamos com trechos, passagens, frases de efeito ou mesmo pensamentos que nos desperta a vontade de tê-los sempre à ponta da memória. Mas não é assim que acontece.
Nós todos, leitores ou não, sabemos, por exemplo, nossos nomes e sobrenomes, o nome do nosso planeta, que galinhas botam ovos e etc. São lembranças certeiras, mas não ficam necessariamente na ponta das nossas memórias. Então pensei em uma suposta solução: Fazer uma lista de todos estes fragmentos de bagagens que adquirimos das ótimas leituras. Dá certo? Dá errado. Falo por experiência, já o fiz e digo, é ainda pior. Você deposita aqueles preciosos pensamentos numa lista em um papel e guarda o papel – ás vezes num lugar estratégico de fácil consulta – e acontece que este ato de registrá-lo e guardá-lo faz com que nós pensemos que a lista está a salva, segura e sólida. E o que acontece? Ficamos tranqüilos com a bagagem em segurança e a deixamos de lado.
Desta forma, o esforço de lembrar se tornou o exercício de se esquecer. Então, e o que fazer? Eu leio tais trechos preciosos com muita calma e muita atenção – Deixo a naturalidade cuidar do resto.
Fugindo – não com displicência – o assunto em prol de uma relevante analogia, contarei um acontecimento real. Eu não posso tentar desesperadamente salvar na memória o momento presente em que me encontro, sentado a um banco – daqueles de praça – do campus universitário, bem acomodado e em paz numa tarde nublada de ventos frios, circundado por árvores variadas, pássaros e muito mais natureza.
De maneira semelhante a como reajo a leitura de um bom livro eu vivo com devida atenção e satisfação este momento sagrado, silencioso e saudável. É basicamente isso que aprendi com pouca leitura dos valores do povo oriental, a importância de se estar consciente do momento presente.
Acabando a precisa analogia volto ao motivo do texto, re-evocando a ideia de que preocupar-se (pré-ocupar-se)em guardar um peso de bagagem de leituras ou salvá-la em uma lista é quase como rejeitá-la à memória.