segunda-feira, 21 de novembro de 2016

sábado, 23 de abril de 2016

Tarde demais?

Se te empurraram que é tarde demais, retire esse pensamento de sua cabeça antes que seja
tarde demais.

Então por sua cabeça já passaram idéias e metas como ser escritor, artista, músico, médico,
luthier, professor de idiomas, designer gráfico, funcionário de uma grande empresa? Já se
passaram idéias parecidas pela minha cabeça também. Mas você tem algumas reclamações
sobre seu emocional, como ser imediatista, ansioso e chegou a desenvolver ansiedade mais
grave com o tempo e suas conseqüências? Passou a ter crises de pânico e agora tenta sanar
tal problema? Acredito que falamos a mesma língua.

Mas como deixamos isso acontecer? Aí é que está o drama. Você, como eu, tentou agradar a
todos ao seu redor. Acertei? Se sim, de repente vale continuar lendo meu relato sobre esta
parte de minha historia.

Abrindo meu coração posso lhes dizer que eu sempre sofri de algumas desordens emocionais,
eu achava que fosse timidez demais, todos achavam, e talvez fosse, mas não fosse somente
isso. Eu era muito ansioso desde criança e sofria com os problemas que meus pais tinham. Eu
acreditava de verdade que tudo dependia de mim para ser resolvido, mas óbvio, uma criança
não poderia resolver problemas de adulto, e isso começou a mexer com meu emocional, havia
algo que eu nunca conseguia resolver.

Também a timidez é uma questão muito séria para criança. Se eu queria algo num restaurante,
por exemplo, como um refrigerante e meus pais me dissessem que eu que pegasse (na
tentativa de me ajudar), e alguma outra criança, amiga ou da família, se dispusesse a ir e pegar
ainda como bônus pegando um para ela própria, isso era uma angústia grande demais, era
uma frustração que ficava registrada por muito tempo e que fica até hoje.
O que essa fase infantil tem a ver com isso? Sempre que não consigo terminar algo que
comecei, um curso ou um relacionamento, eu sinto aquele velho gostinho que vem de dentro,
parece surgir do nada, do estômago ou de um local de memórias mais profundas. Mas você é
de querer deixar o ambiente ao redor harmonioso e as pessoas satisfeitas com você e
confortáveis... Então vem o problema maior. Você vai agradar, só por frações de segundos, a
cada uma delas, e nunca a você mesmo.
Pense nisso como um problema sério quando você é uma pessoa de inteligência significante e
começa a entender como funciona o sistema escolar. O que você faz? Como eu, você vai começar a burlar a escola, entender como são feitas as questões, “como pensam” a escola e
seus professores, como são elaboradas as questões. Daí basta o mínimo de esforço e está lá,
notas boas e uma sobra de tempo para se divertir, afinal de contas você ainda é criança e
como todas as outras você vai querer diversão, principalmente para compensar o que você
nunca pôde conseguir resolver e ser feliz.
Na adolescência a coisa fica um pouco diferente. Você ainda entende como passar fácil nos
testes escolares, mas está muito perturbado, entusiasmado e confuso com todas as mudanças
da idade, então você usa a inteligência e a rebeldia natural da juventude, passa de ano, mas lá
no final, depois de ter bagunçado muito sua escola e também sua própria vida.
Chega a hora de escolher então sua profissão para a fase adulta. Você está pensando nos
shows de rock e nas garotas. O que ser então? Um rock star, claro! Afinal você sabe inglês,
ama rock e aprendeu a tocar rapidamente. Mas a decisão não agrada nem um pouco aos pais.
E agora? Se o ser humano é resultado de um conflito que existe entre seus desejos e as
imposições da sociedade, e ainda mais para você que quer agradar a gregos e troianos...
Resultado, você começa a tocar com amigos na própria cidade para se divertir e faz vestibular
para licenciatura em Inglês, para agradar aos adultos e ter uma profissão quando se tornar um.
Passa no vestibular, mas suas emoções tiram sua condição normal de se expor na
universidade, apresentar grandes trabalhos e seminários. A coisa toda vai ficando muito
cansativa. Você havia falado sobre alguns cursos que lhe interessavam, mas seus pais
pensaram: “não precisa, você estudou em escola boa, vai ter uma boa carreira, basta seguir
um bom curso superior”; depois te disseram não.
Paralelo a isto, seus pais continuam brigando de uma maneira fora do comum e você bebe e
toca rock em busca de fuga, bebe em busca de conforto, bebe e toca em busca de qualquer
alegria. Começa então a se identificar mais com os artistas depressivos e que jogam para o
publico, de diversas maneiras, suas crises existenciais. Paralelo a isso tudo ainda, você tem
seus próprios problemas com garotas, com ressacas, com universidade, com família, com a
existência em si. Passa a repetir as frases como: “meus heróis morreram de overdose”; ”os
bons morrem jovens”; “que país é esse”; “vamos celebrar a estupidez humana”; “a formiga só
trabalha porque não sabe cantar”; “faz o que tu queres”; “somos tão jovens”; e começa até a ter
pensamentos suicidas.

Quatro anos se passam e na universidade você não conclui o curso, pois não encontra
vocação para a profissão de professor enquanto que não se dá bem com as disciplinadepedagogia, só passou mesmo nas disciplinas relacionadas à língua inglesa. 

Você então começa a escrever não somente musicas, mas contos. Sonha em ser escritor. Procura na sua
pequena cidade e nada de incentivo, nada de informações, ninguém entusiasta para te dar um
caminho por onde publicar, quem conhecer, como escrever melhor, por onde percorrer. Você
vai começando a pensar que seus talentos são na verdade mentiras de sua cabeça. Sua idade
agora já tá dentro da casa dos vinte, daí então você começa a ouvir das pessoas que você tá
ficando velho e que cedo, cedo, será tarde demais!

Um turbilhão de revolta, de sentimento de culpa, de ressentimentos e de força vai te tomando
por dentro pouco a pouco e você agora já se encontra diante de um psicólogo para contar suas
derrotas, seus medos, seus projetos inacabados. Sua cidade e sua realidade se tornam um
inferno e você pega um carro com alguns amigos e foge do inferno direto para o paraíso lá na
praia, abraça o mundo inteiro com seus fracos braços por uns momentos e quando volta ao
inferno está mais cansado, confuso e derrotado que nunca!

Seu psicólogo te indica um psiquiatra para torná-lo mais forte para enfrentar seu inicio de
depressão. Medicamentos lhe são introduzidos, agora se você bebe você passa mal de
verdade, agora você já está paranóico e a cada novo dia levantar da cama se torna uma tarefa
mais árdua. Uma fadiga enorme te abraça forte, você desiste do curso da universidade, não
consegue se adaptar ao emprego que só lhe exigia conhecimentos de informática e inteligência
emocional, a qual você já nem sabe o que é. A vida adulta lhe é apresentada assim, nesta
confusão.

Agora tudo que você começa não consegue mais terminar porque todos ao seu redor estão
tentando te ajudar, mas cada um com um conselho diferente que você segue atropelando um
conselho por cima do outro, nem você nem ninguém se sente bem com isso. E nisso os dias
passam, você pede trégua por uma semana, se sente forte num dia, cai de cama meio mês. A
vida vai se tornando um filme que você assiste sem prestar muita atenção. Todo dia é seu
aniversário e nada para comemorar de verdade, somente o fato de ter saúde física e uma
família.

O que te resta já que agora até você teme dizer para si mesmo: “Logo, será tarde demais”?
Hoje eu acredito que eu devo entrar num curso sério, escolher essa profissão com
responsabilidade e seguir com a promessa de que por nada você vai deixar que esse seja meu
próximo projeto inacabado. É hora de esquecer as vontades de outrem, é hora de escolher por
mim mesmo, decidir. 

Eu acho que, se somos parecidos, deve ser hora para você fazer o mesmo!

Rafael Oliveira